domingo, 14 de agosto de 2011

Emoçoes de Acordo com Psicologia Budista




A anatomia das emoções segundo a Psicologia Budista
Segundo o budismo tibetano, a natureza da mente sutil do ser humano é potencialmente pura como a energia de um puro cristal. No entanto, está contaminada por três grandes venenos mentais: o apego, a raiva e a ignorância. Estes, por sua vez, são resultantes de um grande veneno mental: o fato de pensarmos que as coisas existem por si só e que são permanentes.
Nada existe por si só, tudo está interligado. Apesar do seu aspecto permanente, tudo está em constante transformação. Podemos compreender estas verdades racionalmente, mas agimos instintivamente como se as coisas e as pessoas existissem em si e por si próprias, a partir delas mesmas. Nossa percepção da realidade está distorcida. Da mesma forma, sabemos que vamos morrer um dia, mas vivemos como se fôssemos imortais. Podemos até perceber nossa ignorância, mas enquanto a base de nosso ambiente interno for o medo e a dúvida, continuaremos presos a nossos hábitos mentais distorcidos. Enquanto pensarmos que somos pessoas carentes e inadequadas, não seremos capazes de reconhecer nossa base interna positiva! A anatomia das emoções conforme a psicologia budista é descrita no Abhidharma (que na língua pali dos tempos de Buddha significa “a doutrina final”), o texto original da epistemologia do budismo, onde são elaboradas as investigações originais de Buddha sobre a natureza humana. Segundo o Abhidharma, todos os seres são compostos de fatores mentais ou “Nama”, e fatores materiais ou “Rupa”. O indivíduo é um “Nama-rupa”. Nama denota tanto a consciência como os estados mentais. Assim, o Abhidharma enumera 51 tipos de estados mentais. Ainda de acordo com o Abhidharma, existem 89 tipos de consciência. Destas, 80 são características do ser comum, e as 9 restantes são próprias daqueles que atingiram um desenvolvimento espiritual superior. A psicologia budista descreve nos “sankharas”, ou estados mentais generalizados, Seis Emoções Básicas (Seis Venenos-Raiz ou Aflições mentais); Vinte Emoções Secundárias; Onze Fatores Mentais Virtuosos; Quatro Fatores Mentais que podem ou não ser virtuosos. As Seis Emoções Básicas são (em itálico, os termos em tibetano): 1. Apego, isto é, desejo ou ansiedade por possuir – Dö.Tchag 2. Raiva, hostilidade, ódio – Kong.tro 3. Ignorância, ilusão – Ma.rig.pa 4. Orgulho, arrogância – Nga.guiel 5. Dúvida ou suspeita – Te.tsom 6. Visões falsas ou errôneas – Ta.wa.nyon.mon.tchen Destas, as três primeiras são as mais graves, por isso, são chamadas de Os três Venenos Mentais. As Vinte Emoções Secundárias, derivadas de algumas Emoções básicas, conhecidas também como Os Vinte Fatores Afins da Instabilidade, são: Raiva 1.Irritação, agressividade ou indignação – Tro.wa 2.Ressentimento ou rancor – Kön.dzin 3.Hipocrisia ou dissimulação – Tchab.pa 4.Malevolência ou animosidade – Tseg.pa 5.Inveja ou ciúmes – Trag.dog 6. Crueldade ou malícia – Nam.Tse Apego 7. Avareza – Ser.na 8. Excitação mental – Go.pa 9. Arrogância ou presunção – Guia.pa Ignorância 10. Desatenção – She.Shin Min.pa 11. Melancolia ou Mente Pesada – Mug.pa 12. Falta de confiança ou Incredulidade – Ma.te.pa 13. Preguiça – Lê.lo 14. Falta de atenção introspectiva ou esquecimento – Dje.nhe Ignorância + apego 15. Falsidade ou pretensão – Guiu 16. Desonestidade – Yo Ignorância + apego + raiva 17. Impudência ou ausência de vergonha – NgoTsa Med.pa 18. Falta do senso de propriedade ou desconsideração – Trel.Me.pa 19. Desinteresse – Bag.me 20. Distração – Nam.yen Os Onze Fatores Mentais Virtuosos são: 1. Fé – De.pa 2. Sentido do que é correto – Ngo.Tsa.she.pa 3. Consideração pelos outros – Trel.yo.pa 4. Desapego – Ma.tchag.pa 5. Não-raiva ou imperturbabilidade – She.dang.me.pa 6. Não-confusão – Ti.mug.me.pa 7. Perseverança entusiástica – Tson.dru 8. Flexibilidade – Shintu.djang 9. Retidão mental – Bag.yo 10. Não-violência – Nam.par.mi.tse.ba 11. Equanimidade – Tang.nhön Os Quatro Fatores Mentais que podem ou não ser virtuosos são: 1. Dormir – nhi 2. Arrependimento – Guio.pa 3. Investigação geral – Tog.pa 4. Análise – Tcho.pa O Abhidharma distingue entre os fatores mentais que são puros, saudáveis e os que são impuros e prejudiciais. O critério usado para fazer essa distinção foi a observação dos fatores mentais que contribuem para a meditação e para o desenvolvimento espiritual. As emoções positivas encontram-se, na maioria das vezes, encobertas por emoções negativas. A psique humana é formada por camadas mentais: experiências que se sobrepõem e se sustentam umas às outras. Por esta razão, o desenvolvimento espiritual é comparado ao ato de descascar uma cebola: cada camada retirada expõe as qualidades da camada que está abaixo, até desvendar seu núcleo, que é verdadeiramente puro e positivo. Portanto, o budismo nos inspira a entender que no exato momento em que sentimos raiva, temos também a não-raiva como um realidade emocional subjacente à ela. Ou seja, nossas emoções negativas não podem contaminar nossa natureza essencial - o núcleo de nossa mente -, mas podem encobri-la. Se elas fossem inerentes à mente, não haveria sentido em nosso trabalho de removê-las! Para nos desenvolvermos interiormente, é essencial perceber que é possível nos libertarmos delas. Chögyam Trungpa, um renomado mestre do budismo tibetano, define o núcleo central e saudável de nossa mente como a bondade fundamental dos seres humanos. Assim, diz ele: “O primeiro passo para perceber a bondade fundamental é valorizar o que temos. Em seguida, porém, deveríamos ver mais longe e examinar o que somos, quem somos, onde estamos, quando somos e como somos enquanto seres humanos, para então sermos capazes de tomar posse da nossa bondade fundamental. Não se trata de uma ‘posse’, mas de todo modo nós a merecermos”. A mente pura como cristal está sempre presente; no entanto, depende de nosso ambiente interior para se manifestar. Isto é, necessita de constante abertura, confiança e coragem para olhar o que quer que surja em nossa vida com compaixão e entendimento.

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